A ideia de terrenos de marinha remonta à época colonial, quando o Brasil ainda era uma colônia de Portugal. Desde então, essas terras foram estabelecidas para garantir o controle e a segurança sobre áreas costeiras, estratégicas para defesa e navegação.
O conceito original determinava que uma faixa de terreno, geralmente de 33 metros a partir da linha de maré alta, pertencesse ao governo. Isso foi feito para que o Estado pudesse controlar as áreas que mais afetavam o transporte marítimo e o comércio.
Hoje, o conceito ainda está em vigor, com alguns ajustes ao longo dos anos. Mesmo sendo uma ideia antiga, ela continua impactando diretamente quem possui ou deseja adquirir propriedades próximas ao mar. É fundamental entender essa origem para compreender por que as regras atuais ainda são tão rigorosas.
Muita gente se surpreende ao descobrir que, mesmo após a compra de um terreno de marinha, ele ainda pertence ao governo brasileiro. Isso significa que você, como proprietário, possui um direito de uso, mas não a propriedade plena do solo.
O governo, portanto, tem a prerrogativa de intervir nessas áreas quando necessário. Na prática, é como se o cidadão comprasse uma concessão de uso, pagando taxas anuais, mas não tivesse o controle total do que acontece no solo.
Esse fato torna a compra e venda de terrenos de marinha uma transação que exige cuidados redobrados, pois, embora o comprador possa desfrutar do uso da terra, deve sempre estar atento às regulamentações e autorizações necessárias para qualquer tipo de construção ou reforma.
Quem possui um terreno de marinha está sujeito a pagar uma taxa anual conhecida como foro, além do laudêmio, que é pago em caso de venda do terreno. Essas taxas podem gerar um impacto financeiro considerável, que deve ser considerado ao comprar um imóvel nesses locais.
O laudêmio é uma taxa única, geralmente calculada em 5% do valor de venda do imóvel, cobrada sempre que o terreno troca de mãos. Já o foro é uma taxa anual paga pelo uso contínuo do solo.
Esses custos adicionais, além de pegarem muitos proprietários de surpresa, podem tornar o investimento em um terreno de marinha mais oneroso do que um terreno convencional. Estar ciente desses valores evita problemas financeiros inesperados e possibilita um planejamento mais assertivo.
A legislação brasileira permite o usucapião para terrenos particulares, mas para terrenos de marinha, essa prática não é permitida. Isso significa que, mesmo que alguém ocupe uma área costeira por anos, ela não poderá reivindicar a posse definitiva do local.
Esse detalhe legal impede que uma pessoa se torne dona do terreno pelo simples uso prolongado. Assim, mesmo que alguém herde ou receba uma propriedade nessas áreas, ela nunca será 100% privada.
Entender essa restrição legal é essencial para qualquer pessoa interessada em propriedades litorâneas, especialmente se houver planos de longo prazo, como a transmissão do terreno para herdeiros.
Outro aspecto surpreendente é que a linha de maré, que define os limites dos terrenos de marinha, pode mudar com o tempo devido a fenômenos naturais e intervenções humanas. Essa movimentação pode alterar a classificação de um terreno, fazendo com que uma área privada passe a ser considerada de marinha.
Em áreas onde a erosão costeira é intensa, por exemplo, terrenos antes considerados seguros podem acabar sendo classificados como terrenos de marinha devido ao avanço do mar.
Esse tipo de mudança é um dos fatores que mais preocupa proprietários em áreas costeiras, pois as alterações podem impactar os valores das taxas e até mesmo limitar o uso da área para construções e melhorias.
A responsabilidade pela gestão dos terrenos de marinha cabe à Secretaria de Patrimônio da União (SPU), mas existem municípios que também possuem alguma autonomia na administração local dessas áreas.
Essa divisão de responsabilidades pode criar situações complexas para os proprietários, que muitas vezes precisam lidar tanto com a administração federal quanto com a municipal para conseguir as autorizações e regularizações necessárias.
Esse emaranhado burocrático aumenta o tempo e os custos para quem deseja realizar obras e até mesmo vender ou transferir a posse. Por isso, é essencial conhecer bem os processos e, muitas vezes, contar com apoio especializado para evitar entraves administrativos.
Os terrenos de marinha têm um impacto significativo no mercado imobiliário, especialmente em cidades costeiras onde a demanda por imóveis é alta. A limitação de propriedades e o controle governamental podem influenciar os preços e a oferta de terrenos disponíveis.
Devido às taxas adicionais, muitos compradores reconsideram investir em áreas costeiras, o que pode diminuir o valor de mercado de terrenos de marinha. No entanto, para aqueles dispostos a arcar com os custos, a exclusividade e proximidade ao mar continuam sendo atrativos poderosos.
Para investidores e compradores, compreender como essas propriedades se comportam no mercado é essencial para avaliar os riscos e as oportunidades envolvidas. Terrenos de marinha podem ser um ativo valioso, mas requerem um entendimento claro das limitações legais e financeiras.